O diabo é o pai do ROCK ?

Por Elton Basílio

Segundo Raul Seixas e muitos outros malucos por aí, o diabo é o pai do rock. O bom e velho rock and roll, desde o nascimento, sempre teve sua imagem ligada a rebeldia e, posteriormente, ao próprio satanás. Muito se especula no meio religioso esse suposto liame entre rock/demônio, e muitos artistas, se aproveitando da polêmica, alimentam ainda mais essa associação se travestindo de verdadeiros filhos do cão! Esse assunto intriga muita gente, principalmente religiosos extremistas, e achei válido escrever sobre.

Em primeiro lugar, é necessário que se saiba que a associação entre o capeta e música não é exclusiva ao rock. Esse lance já aconteceu com a respeitável música clássica: Giussepe Tartini (1692-1770) e Nicollo Paganini (1782-1840) são os exemplos. O Paganini, que tocava violino de uma maneira extremamente inusitada, logo teve sua desenvoltura musical ligada ao capeta. Esse músico era tão sinistro que, mesmo arrebentando as cordas do seu instrumento, ele ainda conseguiu terminar seu concerto, tocando apenas na única que lhe restou. Tamanho foi o impacto dessa apresentação que inúmeros espectadores juraram terem visto o próprio satanás, este que conduzia a mão do erudito em seu violino encapetado. Reza a lenda que história análoga ocorreu com um músico de Blues, Robert Johnson. Em certa noite de lua cheia, Johnson teria aguardado o próprio satangôs em uma encruzilhada, aonde o senhor das trevas chegou em forma de homem, afinando o violão do artista, proporciando-lhe habilidades invejáveis no instrumento.

Já no mundo do rock, por seu turno, uma temática soturna e obscura veio a tona de maneira pioneira com Alice Cooper e também com o Black Sabbath. Eu particularmente considero o Alice Cooper como o pai do "rock tenebroso", digamos, mesmo porque o cara já usava corpse paint (tipo de pintura facial em preto e branco hoje em dia muito utilizada por bandas de BLACK METAL) desde o final da década de 60, um pouco antes do lançamento do primeiro álbum de Ozzy e sua trupe.

O próprio Alice declinou que "eu comecei a fazer no final dos anos 60, antes que o Black Sabbath lançasse seu primeiro disco. Mas como o Sabbath ficou popular primeiro, eles ficaram com a fama". Cooper trazia em suas apresentações o que eles batizaram de "teatro horror", no qual corpos humanos deformados chamam a atenção dos expectadores com simulacros sinitros e bizarros. Dessa forma, os shows dessa distinta lenda do rock criava uma grande atmosfera soturna, o que logo seria intitulado por religiosos e afins de "culto satânico".

Se tem outro lance que contribui com toda essa desconfiança são as capas de disco. Não raras vezes nos deparamos com imagens chocantes, profanas, inescrupulosas e o que mais de adjetivo cabuloso que você puder imaginar. É compreensível que uma pessoa leiga, diante de tais recortes, se veja diante de uma obra do próprio satanás, porque realmente algumas capas são muito ofensivas.

Agora analisando a questão com certa sobriedade: a palavra demônio vem do grego daemon, que significa inspiração espiritual, pensamento criativo. Nesse sentido, naturalmente, podemos admitir que o diabo é o pai do rock, uma vez que esse estilo musical com certeza é obra de inspirações e pensamentos por demais criativos. E outra, não podemos restrigir a arte apenas a aquilo considerado politicamente correto; da mesma forma que um ator protagoniza um filme de terror, como temática satânica, sem render adoração ao diabo, um músico pode conceber canções com essa mesma estética, sem necessariamente prestar culto a qualquer entidade. Enfim, é tudo arte!

Mas o assunto não se esgota por aí. Existem bandas realmente "from hell", no sentido literal da palavra. No próximo post falaremos então do BLACK METAL ...

Ficanapaz!