Crônicas para o Fim do Mundo


Celebração à mediocridade musical (ou à nossa identidade)

Em tempos de escassez de talento na música brasileira, as bandocas tupiniquins vêm apelando para o visual exageradamente forçado a fim de se enquadrar ao dito mercado. Aí você me diz: “mas nas décadas de 70 e 80 as bandas se pintavam, cuspiam sanguinho pela boca, eram andrógenos maquiados, usavam calça boca de espingarda e espetavam seus cabelos multicor.” Tudo bem. A diferença é que havia I.D.E.N.T.I.D.A.D.E! Todos sabiam quem era o Secos e Molhados, o Kiss, o Poison, o Sex Pistols, pelo visual e muito mais pela Música (com M maiúsculo). Hoje são subterfúgios, muito usados para mascarar a ausência de talento. Tá difícil... Sabemos quem são Restart e companhia limitada.

Vamos reduzir nossa visão macro ao micro de nossa cidade:

“Precisamos ser todos branquinhos, bonitinhos e barbeados. Precisamos fazer nossas sobrancelhas e pentear nossos cabelos a la Luan Santana (mesmo se tivesse cabelo, não o faria; nem o cabelo, nem o Luan). Precisamos usar roupas, calçados e acessórios de marca, formando um composée muito duvidoso, para alcançar o público jovem feminino (ou não). Precisamos cantar canções de amor mesmo que nem a música nem o amor façam o menor sentido. Precisamos nos apresentar no maior número de lugares possíveis e nossas fotos têm que estar no jornal.” Me entristece ver o telento sucumbir a valores tão menores.

Precisamos... o que mais precisamos para sermos... o que mesmo? Músicos? Artistas? Ou cópias daqueles que gostaríamos de ser?

Não condeno o cabelo penteado, o amor, nem nada disso – quem sou eu? Apenas percebo a falta de autenticidade nestas ações, com o único intuito de talvez, um dia, quem sabe, ser conhecido além de nossas fronteiras. Façamos tudo isso e muito mais, mas façamos com um PROPÓSITO MAIOR que simplesmente a aparência. É triste, em uma cidade musicalmente virtuosa, sermos submissos e submetidos à falta de identidade para mostrar o que podemos fazer. Identidade, meus caros. À nossa identidade.

2 comentários:

  1. Texto excelente. Realmente estas questões estéticas estão sobrepondo o talento e a qualidade musical!

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  2. Infelizmente o marketing televisivo e a falta da atitude dos "ouvintes" envergonham aqueles que realmente são adoradores do verdadeiro Rock n Roll. Estamos em meio a um caos musical, mas o Rock n Roll irá sobreviver e todo esse lixo musical há de cair por terra em breve !!!

    Flavio Amaral

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